Índia: a saga da população contra a indústria nuclear

Os efeitos da indústria nuclear da Índia em sua população
Quando o professor Dipak Ghosh, um respeitado físico indiano e reitor da Faculdade de Ciências da Universidade de Jadavpur, em Calcutá, na Índia, decidiu tirar a limpo alguns mitos regionais de que o rio Subarnarekha era envenenado e que as comunidades ao seu redor sofriam de persistentes problemas de saúde por sua causa, os resultados foram alarmantes. Há sete anos atrás, ao coletar amostras do rio e de poços adjacentes, o time de Ghosh descobriu que a água era adulterada com partículas radioativas alfa que não podem ser absorvidas pela pele ou pelas roubas, mas, se ingeridas, causam 1000 vezes mais danos do que outros tipos de radiação. Em alguns lugares, os níveis eram 160% maiores que os limites impostos pela Organização Mundial de Saúde. “Era potencialmente catastrófico”, disse Ghosh em uma entrevista recente. Milhões de pessoas ao longo da hidrovia estavam potencialmente expostas. O que o time do professor descobriu foram provas concretas da pegada tóxica do programa secreto de mineração e fabricação de combustível nuclear do país. O programa é, hoje, objeto de uma poderosa ação legal que evidencia de forma diferente as ambições nucleares da Índia e lança dúvidas sobre as operações futuras do seu reator. O plano de energia aprovado pelo governo em outubro diz que energia nuclear é “uma fonte segura, benigna ao meio ambiente e economicamente viável de suprir a necessidade por eletricidade do país”. E no dia 30 de novembro, o primeiro-ministro Narendra Modi, de pé ao lado do presidente americano Barack Obama na conferência de Paris sobre o aquecimento global, disse que “a Índia é um país amante da natureza e visa, como sempre, proteger a natureza do mundo” enquanto produzem energia. Em 21 de agosto de 2014, no entanto, a justiça do estado ordenou um inquérito oficial sobre as alegações de que a indústria nuclear expôs dezenas de milhares de trabalhadores e moradores de vilarejos a níveis perigosos de radiação, metais pesados e outros cancerígenos, incluindo arsênico, por meio de rios poluídos e água subterrânea filtrada pela cadeia alimentar – de peixes nadando no Rio Subarnarekha a vegetais lavados em suas águas contaminadas. As autoridades do setor nuclear da Índia argumentam há muito tempo que a má qualidade da saúde na região é causada pela pobreza endêmica e das condições sanitárias precárias da comunidade tribal local, conhecidos como Adivasi, ou “primeiro povo”. Mas testemunhos e relatórios documentam como as instalações nucleares, fábricas e minas vêm repetidamente violando os padrões de segurança internacionais nos últimos 20 anos. Médicos e trabalhadores da área de saúde, assim como especialistas em radiação de vários países, dizem que as autoridades em nucleação ignoram repetidamente os seus avisos. O objetivo da indústria, os locais dizem, tem sido minimizar as evidências de casos de câncer, enterrando as estatísticas que mostram um alarmante número de mortes. Os arquivos do caso incluem pesquisas médias e epidemiológicas que chamam a atenção para grande incidência de infertilidade, problemas em nascimentos e doenças congênitas entre mulheres que vivem perto dos prédios da indústria. Também mostram níveis de radiação que, em alguns lugares, chegam a ultrapassar em 60 vezes os níveis de segurança impostos por organizações como a Comissão Americana de Regulação Nuclear, apesar de a Comissão de Energia Atômica da Índia, a maior autoridade do assunto no país, negar estes resultados, argumentando que todos os problemas no complexo nuclear foram corrigidos e que nenhum caso de envenenamento por radiação foi provado.